Por favor, não deixa a dor regressas conta à história de Joel, operário de uma fábrica de tijolos onde o pai passou toda a vida sem nada conseguir. Após perde a mãe, vitima de uma doença incurável, ainda em prantos é obrigado pelo patrão a fazer uma viagem à capital.
Chegando lá ele se depara com uma realidade que pensava estar extinta: um pequeno grupo que compartilhava as idéias nazistas e idolatrava Adolf Hitler, mantendo secretamente um pequeno campo de concentração. A vitimas principais eram estrangeiros e crianças de um orfanato local. A história retrata a repetição de todo o sofrimento causado pelo holocausto e mostra a luta de pessoas comuns como Joel, para impedir que a dor desse passado tão obscuro possa retornar em nossos dias.
Esse foi o primeiro livro que li do Book Tour Selo Brasileiro e confesso que foi uma surpresa.
O livro conta um pouco da história de Joel. Começamos com sua infância pobre, porém muito feliz. Joel vive no interior, em uma casa muito pobre, junto com os pais e suas três irmãs. Apesar das dificuldades a alegria reina, e o maior sonho de todos eles é conseguirem uma casa de tijolos.
O que as crianças não sabem é que esse sonho está cada dia mais distante, afinal o progresso chegou a pequena fábrica de tijolos e o pai de Joel não é mais necessário por lá.
Desempregado e doente, ele tenta manter a alegria no lar ao mesmo tempo em que busca um novo emprego. Mas as coisas não acontecem como ele espera, a morte, impiedosa como sempre, bate a sua porta e o leva embora.
A família não perdeu apenas o pai, mas também a inocência e a alegria.
Os anos passarão e iremos reencontrar Joel agora adulto, trabalhando na mesma fábrica onde o pai havia trabalhado.Sendo muito infeliz e vendo os anos passarem sem nada conseguir nessa vida e sonhando em ser escritor. Vendo seus textos serem rejeitados, infinitas vezes, por diversas editoras.
A mãe continua vivendo na antiga casa, e a muito já deixou de sonhar com a casa de tijolos.
Ela está muito doente e a única coisa que gostaria era poder rever todos os filhos antes da morte chegar.
Entretanto a morte não tem compaixão por nada e por ninguém, e nem mesmo esse simples pedido é atendido. Joel que a muito não tempo não via a mãe e as irmãs era o único presente ao seu lado neste momento. Ele então fica sabendo que sua irmã Alice sofre nas mãos do marido, Bárbara está desaparecida e Camile está de partida para outro país, onde ganhou uma bolsa de estudos.
Ainda de luto e sofrendo muito, Joel é enviado a capital por seu patrão, para selar um acordo nada ortodoxo com o prefeito do lugar.
Acaba instalado em uma pousada nada comum e escuta gritos de agonia e desespero durante a noite. Sua curiosidade aumenta a cada segundo. O que afinal estaria acontecendo?
Sua visita a capital, incluem também conhecer o orfanato local e fazer uma doação em nome da fábrica para ajudar essas pobres almas.
Essa visita foi algo que agradou demais Joel, o fazendo muito feliz. O sorriso de cada uma delas enchendo de alegria seu coração destruído. Mas quando uma delas desaparece misteriosamente, e um bilhete de cunho racista e deixado como única pista, ele tem certeza que precisa agir antes que seja tarde demais.
Mas nem mesmo em seus piores pesadelos, Joel poderia imaginar o que se seguiria. Em meio a capital, um grupo extremista mantinha um campo de concentração nos mesmos moldes dos usados pelos nazistas na Segunda Guerra, e é lá que ele encontrará a pequena órfã desaparecida.
Agora é o momento crucial da vida de Joel. Fingir que nada sabe, nada viu, e voltar para sua pacata cidade ou descobrir uma forma de ajudar aquelas pobres almas que vivem um terror a muito julgado instinto?
Um livro surpreendente. O autor não se importou em detalhar o lugar onde os fatos se passam. Na verdade, em momento nenhum ele cita o nome da cidade ou da capital. E entendi que essa era uma forma de dizer que o que acontecia ali poderia acontecer em qualquer lugar.
Fiquei com lágrimas nos olhos ao imaginar a pureza dos sonhos daquela família. Apenas e tão somente uma casa de tijolos. Eles não queriam riqueza, não queriam mais nada. Apenas uma casa que não ameaçasse o tempo todo desabar sobre suas cabeças.
Percebemos também no livro a pureza do amor das crianças e uma fala de Joel tocou meu coração:
-Aprender? As pessoas não aprendem nada, minha irmã. As pessoas desaprendem as coisas à medida que crescem. Por que todos acham engraçado tudo o que uma criança faz? Porque elas são puras. Riem de coisas simples, se encantam quando vêem um passaro, dão gargalhadas quando estão diante dos pais, sabem que ali está toda a segurança e felicidade que precisam. Mas aí o tempo passa e o que acontece? Elas vão crescendo e desaprendendo a dar valor ao que realmente importa. Começam a ter vergonha das coisas que antes faziam, às vezes sentem vergonha até mesmo dos pais.
É essa perda de valor, do que realmente importa, que é capaz de transformar as pessoas e fazerem com que se achem melhor que os outros. Superiores. Puros. E com isso nasce a intolerância e o preconceito para aquilo que elas não entendem. E perceber que isso tem acontecido cada vez mais cedo, doeu em minha alma. Afinal as criança perdem sua inocência cada vez mais cedo.
Quando Joel descobre o campo de concentração, meu coração se apertou de tal forma, que eu só conseguia pensar: Será que isso pode mesmo voltar a acontecer?
E por mais que me doa falar, sim, acho que isso pode voltar a acontecer. Resta saber qual será nossa posição diante de algo dessa natureza. Iremos ficar inertes ou iremos reagir?
Nos esconderemos no casulo de nossa suposta segurança, ou colocaremos nossa vida em risco para um bem maior?
Confesso que senti falta do autor ter explorado em pouco mais alguns personagens, como, por exemplo, as irmãs de Joel, Afinal ficamos sem saber ao certo o que acontece com elas. Mas ao mesmo tempo eu entendi que esse não era o foco do livro. O foco era nos lembrar do terror de algo que aconteceu e manter acesa a chama da indignação, nos forçando assim a manter os olhos abertos para impedir que algo desse tipo volte a ocorrer. Não podemos nos dar ao luxo de esquecer. É preciso sempre lembrar, pois o esquecimento é o primeiro passo para a negação.