29 de abril de 2012

@mor - Daniel Glattauer - Suma




Se você já encontrou a pessoa perfeita, por que se arriscar a conhecê-la?

(...)
Assunto: Cancelamento
Prezados senhores e senhoras da Editora Like.
Caso o fato de os senhores ignorarem insistentemente minha tentativa de cancelar uma assinatura tiver como objetivo não deixar cair o volume de vendas de seu produto, que está em lamentável e constante decadência, infelizmente devo lhes comunicar: eu não vou mais pagar!
Cordialmente
E. Rothner

Oito minutos depois
Fw:
A senhora se enganou. Este é um e-mail particular. Meu endereço eletrônico é woerter@leike.com. A senhora certamente queria escrever para woerter@like.com. A senhora já é a terceira que me pede cancelamento. A revista deve ter ficado muito ruim.
Leo Leike

Cinco minutos depois
Re:
Oh, me desculpe! E obrigada pelo esclarecimento.
Saudações
E.R.

Nove meses depois
Sem Assunto
Feliz Natal e Próspero Ano Novo.
É o que deseja
Emmi Rothner

Dois minutos depois
Fw:
Cara Emmi Rothner
Nós mal nos conhecemos ou não nos conhecemos absolutamente.
Contudo agradeço pelo seu afetuoso e muitíssimo original e-mail coletivo.
É preciso que a senhora saiba: eu amo e-mails coletivos, enviados a um coletivo ao qual eu não pertenço.
Sds, Leo Leike

Eu não costumo colocar parte do livro na resenha, mas dessa vez não resisti.
Por um erro de digitação ou por uma obra do destino, nunca saberemos ao certo. Mas foi assim. Exatamente assim, que a história de Emmi e Leo teve início.

Após esses equívocos e respostas sarcásticas de ambos os lados, os dois passam a trocar e-mails diariamente.
E-mails que falam sobre tudo e sobre nada. Que falam do tempo, dos sentimentos, das emoções, mas nunca no âmbito real.
Aos poucos eles vão se conhecendo, se descobrindo e criam uma bolha perfeita para onde fogem do imperfeito mundo real.

Dentro da bolha, o mundo real não importa. Nem mesmo o fato de Emmi ser casada e de Leo estar saindo de um complicado relacionamento de muitos anos.
Ali, na bolha, tudo é perfeito. Emmi e Leo são amigos. Trocam experiências e informações.
Aos poucos algo mais forte e poderoso nasce entre eles. Porem como saber se esse sentimento é verdadeiro, real ou uma ilusão criada pela bolha perfeita?

Eles ainda não se permitiram sair da bolha. Eles não possuem nem mesmo um rosto real. Uma foto. Nada. Apenas aquela imagem criada através das palavras escritas. E não uma descrição física de como seriam, nem isso eles se permitiram. A imagem sobre o outro, parte apenas da forma como escrevem, sobre o que escrevem, como escrevem. E eles são perfeitos um para o outro.
A vontade de se encontrarem no mundo real é tão intensa quanto o medo de ver a magia não resistir fora da bolha.
Mas não é mais possível viver assim. A bolha não consegue mais aguentar tanta informação, carinho e desejo. Ela está prestes a explodir.

@mor de Daniel Glattauer é um livro novo sobre um assunto velho.
O foco principal são as emoções humanas. O nosso hábito de criarmos personagens perfeitos baseado em poucas informações.
O livro é composto única e exclusivamente pela troca de e-mails entre Emmi e Leo.
Não existe um narrador. As lacunas deixadas pelos e-mails são completadas pela nossa imaginação. Mas ainda assim Daniel conseguiu criar personagens muito complexos, quase reais. O livro é inteligente, emotivo e sarcástico.

A leitura é extremamente rápida. Li em apenas uma tarde. Pois uma vez iniciado é difícil parar. Você quer saber qual será a resposta para aquele e-mail, e depois, a resposta da resposta. Enfim viciante.
É angustiante perceber o quanto eles vão se tornando necessário um ao outro. Como se o dia no mundo real só pudesse começar se eles se falassem primeiro na bolha.
Eles brigam, riem, choram, e tem crises de ciúmes um do outro. É como se houvessem se tornado marionetes de suas próprias histórias.

Ambos sabem que esse relacionamento é loucura, mas como um viciado em busca de drogas, eles buscam e-mails em sua caixa de entrada.
Quase no final a história sofre uma pequena mudança no padrão e eu sofri com isso, mas não tanto quanto sofri no final.
Não posso, ou melhor, não vou contar o que acontece, apenas dizer que quero muito o próximo livro “A cada sete ondas” (tradução literal do título), com previsão de lançamento em inglês para agosto. Oh!! só nos resta esperar.