4 de maio de 2012

Viva Para Contar - Lisa Gardner - Novo Conceito



“Eu procurava por uma resposta que nunca encontrei.
 Meu pai matou a família inteira, exceto a mim. Será que aquilo significava que me amava mais do que os outros, ou me odiava mais do que os outros?
- O que você acha? – era o que o Dr. Frank sempre respondia.
Acho que essa é a história da minha vida.”

Danielle é uma enfermeira de 34 anos, que dedica sua vida a cuidar das crianças da ala de psiquiatria da clínica pediátrica de Boston.
Aqui a maioria das crianças possui uma história completamente drástica. Abandono. Abuso. Negligência. O contato e o convívio com essas crianças é muito difícil. Algumas são suicidas. Outras psicóticas. Um pequeno descuido pode ser fatal.
Porém Danielle ama seu trabalho. Ela não consegue imaginar a vida sem essas crianças. Elas são sua vida.
Fora do hospital as coisas são muito mais difíceis. Principalmente durante uma semana no ano. Essa semana. Quando os fantasmas retornam com força total. Quando completará 25 anos que seu pai matou toda família, menos ela.
Mesmo tantos anos depois a dor e as dúvidas são as mesmas, e Danielle vive atormentada por isso.

Victoria leva uma vida atormentada pelo medo e pela incerteza.
Um pequeno incidente pode desencadear reações de ódio. Ameaças. Violência.
Há muito tempo Victoria já nem sabe quem ela é. Ainda assim não consegue partir e deixar tudo para trás.
Ela ainda o ama demais. Apesar de todo medo, de toda angustia de todo terror.
Quando ele está bem e lhe sorri, seu mundo se ilumina e a vida faz sentido.
Esses momentos estão cada vez mais raro.
Ele está cada vez mais perigoso. Cada vez mais forte. Cada vez mais violento.
Qualquer dia irá mata-la. Apesar de todo cuidado, Victoria sabe que isso acontecerá. Mas ela ainda o ama demais. Ela ainda não está pronta para partir. Talvez nunca esteja. Ou talvez quando criar coragem seja tarde demais.

D.D. Warren é investigadora da divisão de homicídios de Boston. Uma investigadora altamente respeitada. Inteligente. Intuitiva.
Mas D.D. é também uma mulher. Uma bela mulher. A carreira dificulta os relacionamentos amorosos e perto de fazer 40 anos, D.D. está sozinha.
Seus hormônios gritam por sexo. Uma bela noite de sexo ardente. Revigorante. Família e filhos poderiam esperar. Mas não muito.
Era nisso que D.D. pensava enquanto jantava com Chip. O contador amigo, do amigo, do amigo, com quem D.D. esperava quebrar seu jejum.
No entanto o destino tinha outros planos para aquela noite.
Quando seu pager tocou (ou seu anticoncepcional, como D.D. costumava chama-lo) ela só conseguiu pensar: “Que seja um massacre em grande escala”. Ao ler a mensagem ela se partiu com um beijo rápido em Chip e se arrependendo de seus pensamentos.

Uma família inteira assassinada. Pai, mãe e três filhos. A cena era grotesca. Tudo levava a crer que o pai havia matado a família toda e se suicidado.
Mas D.D. não conseguia aceitar isso. Alguma coisa não se encaixava.
Dois dias depois outra família é assassinada. A cena é muito parecida com anterior. Qual a probabilidade dos pais estarem enlouquecendo e tudo ser apenas uma coincidência? Para D.D. nenhuma.
O único elo comum entre as duas famílias era que ambos possuíam filhos que haviam sido tratados na ala de psiquiatria da clinica pediátrica de Boston.
Essa informação leva D.D. ao encontro da enfermeira Danielle.
Os mistérios parecem apenas aumentar quando uma nova criança é encontrada morta.

Viva para Contar é um suspense policial com uma leve pitada de romance.
Lisa Gardener nos leva para o mundo pouco explorado das doenças mentais na infância.
Aqui as crianças não são aqueles anjinhos cheios de amor. Elas são más. Sarcásticas. Psicóticas. Algumas devido a abusos repetitivos, que roubaram delas a inocência, a esperança, a identidade, a humanidade. Outras apenas nasceram assim, apesar de todo amor e dedicação dos pais.
Gardner não se preocupa em “maquiar” os fatos. Eles são narrados de forma crua. Intensa.

A investigação dos dois crimes fará com que o destino de D.D. e Danielle se cruze
Danielle apesar de ótima profissional é uma pessoa atormentada pelo passado.
D.D. está disposta a tudo na busca pela verdade e não se importará em ferir sentimentos pelo caminho.
As crianças com problemas mentais das duas famílias é o único elo entre os crimes e todos que tiveram contado com elas passam a ser suspeitos. Danielle, os agentes sociocomportamentais e até mesmo o guru Andrew Lightfoot, que garante que apenas a “luz” poderá salvar essas crianças.
Durante as investigações, D.D. contará com o apoio da sua equipe e do professor Alex Wilson, um homem tão inteligente quanto gostoso, e apesar dos hormônios de D.D. gritarem, eles terão que esperar.
Não podemos esquecer Victoria. Uma mulher que pouco a pouco abriu mão de cada pedacinho do seu ser e já não sabe mais quem é.
Qual o papel dela nessa história?

Uma trama envolvente, que mexe com nossos sentidos e emoções.
Não conseguia parar de ler. Lisa altera a narração entre essas três personagens, tornando a história ainda mais interessante, e pouco a pouco vamos desvendando os mistérios.
O final foi satisfatório. Não consigo dizer que amei, da mesma forma que não consigo pensar em outra solução.
Quem trabalha na área da saúde, sabe que as doenças mentais são um grande mistério. Principalmente em crianças. Eu mesmo quase desisti da enfermagem na época do meu estágio em psiquiatria. Era demais para mim. É um lugar pesado, que parece sugar nossas energias. Eu saia de lá me sentindo um lixo. Um nada.
O livro mexeu muito comigo, e a cada página lida eu agradecia pelos meus filhos, lindos, meigos e saudáveis.
Tenho certeza que mexerá com você também.